CONFLITOS LINGUÍSTICOS
Havia uma aldeia chamada Linguística, cujos moradores
não valorizavam um ao outro. Certo dia, Morfologia, uma das antigas moradoras, jactanciava-se
entre os amigos:
- Se os homens hoje se comunicam
graças a mim, pois se lhos não fizesse tal favor, certamente não passariam de
animais. Pensem bem, como se comunicariam se eu não inventasse as palavras,
alguém mo pode dizer?
Subitamente, alguém a
interropeu:
- Que dizes, Morfologia,
graças a quem? Tu estás mesmo por fora, amiga. Como as tuas palavras transmitiriam
mensagem alguma se eu não as combinasse numa frase - disse a Sintaxe furiosa.
Ouça bem, continou: todo
teu humilde trabalho teria sido vão, se não pudesse contar com a minha
obsequiosa criatividade. Portanto, eu sou a tal.
Kkkkkkk, ouviu-se uma
gargalhada entre a multidão, advinhe quem era, as duas irmãs gêmeas – Fonética
e Fonologia.
- Quanta asneira se ouve
aqui, diziam elas. Quão inócuas sois, coitadinhas. Acordem, o homem evoluíu.
Como se fariam os discursos, seminários,
palestras, aulas, se lhos não fizesse saber escrever e pronunciar as palavras,
tolas? A gente sim, pode gabar-se disso, pois a comunicação humana teria sido
confusa, desprovida da escrita e pronúncia que lhes oferecemos. Logo, está tudo
dito, quem manda somos nós.
Parecia estar tudo
resolvido, quando, repentinamente estava no seio delas a Semântica, que não
esperou para falar:
- Não aguento tanto ego
assim. Ou são loucas ou não entendem o valor real das coisas. Como se pode
entender uma palavra fora da frase? Como criar uma frase cuja pronúncia não se
conhece? E, conhecendo a pronúncia, que valor teriam tais palavras se eu lhes
não fizesse saber o significado? Aliás, as palavras têm algum valor, quando ostentam
algum significado.
- Concordo contigo, amiga
- interropeu a Pragmática.
Morfologia cria palavras,
a minha amiga Sintaxe combina-as na frase, as irmãs Fonética e Fonologia
mostram como escrevê-las e pronunciá-las, e tu Semântica, indicas o significado
destas. Ademais, eu e a minha nova hóspede Estilística também dámos o nosso
contributo, e já nos íam esquecendo. Ajudo-os a melhorar a comunicação na
prática diária e a Estilística embeleza-a de modo a agradar os mais exigentes,
já viram?
Não havia terminado de
falar, quando a Morfologia, colondo-se no meio delas, lacrimejando, disse:
- Queiram desculpar-me,
amigas. Quem provocou tudo isso fui eu. No entanto, depois de tudo que se disse
aqui hoje, acabo entendendo que, afinal de contas, ninguém é melhor que
ninguém, a nossa força está na união. Quanto mais unidas, faremos melhor o
nosso trabalho, deixando o mundo cada vez mais acertado.
Tinido Caputo
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